Discurso proferido em Reunião Solene em homenagem ao Dia Estadual do Choro
Senhor presidente, senhores deputados, senhoras deputadas, amigos e amigas aqui presentes, boa noite.
Mais adequado seria se nesta solenidade em homenagem ao Dia Estadual do Choro João Pernambuco, celebrado por todos no último dia 16, estivéssemos reunidos em uma roda de Choro, respeitando, dessa forma, a tradição que atravessa os séculos congregando em irmandade os apreciadores deste que é o primeiro gênero de música popular instrumental brasileira. Sofisticado, exigindo apuro técnico, talento e tendo a improvisação como condição para seus executores, o Choro nasceu em meados do século 19 nos quintais dos subúrbios do Rio de Janeiro. Ganhou o país afora como vigoroso símbolo da cultura brasileira e encontrou, em Pernambuco, um solo fértil.
Ao lado de ícones nacionais, precursores dessa história, como Joaquim Callado Jr. – tido como o “pai do Choro” -, Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha – a quem foi consagrado o Dia Nacional do Choro, em 23 de abril -, Altamiro Carrilho e Jacob do Bandolim, o nosso Estado sempre foi berço de mestres fundamentais do movimento do Choro no Brasil e em Pernambuco.
Entre as preciosidades que essa terra ofereceu ao país, gostaria de saudar João Pernambuco, Amélia Brandão, Mestre Chocho do Bandolim (Patrimônio Vivo de Pernambuco que nos deixou há dois anos vítima de covid-19)-, Pernambuco do Pandeiro, Luperce Miranda, Henrique Annes, Bozó 7 Cordas, Zé do Carmo, Rossini Ferreira, Quincas Laranjeiras, Bila do Cavaco, mestre Jacaré do Cavaco – citando apenas alguns da nossa rica constelação. Em nome deles, quero saudar, com respeito e grande admiração, o talento e a história de tantos outros, homens e mulheres, músicos, compositores, intérpretes que ao fazerem de suas vidas um tributo ao Choro, elevam-se à condição de guardiões.
Ter contribuído na Assembleia Legislativa para a criação do Dia Estadual do Choro foi para mim bastante especial. Ao encaminhar a reivindicação do Coletivo Isto É Choro!, que sinalizava a ausência de uma data oficial para marcar a importância do Choro, tive a oportunidade de me integrar a um movimento maior que busca o resgate, à luz do conhecimento público, da história de João Teixeira Guimarães, o João Pernambuco.
Filho de uma índia caeté e de um português, João Pernambuco nasceu no dia 2 de novembro de 1883, em Jatobá, Sertão de Itaparica. Vindo de família numerosa, enfrentou as dificuldades que marcam a vida do sertanejo pobre. Não frequentou escolas e com violeiros que se apresentavam pelas feiras e mercados públicos aprendeu a tocar viola, aos 12 anos de idade.
Aos 20 anos, em busca de uma sorte melhor, foi para o Rio de Janeiro levando como bagagem poucas roupas, um violão e o seu raro talento musical. Lá foi ferreiro, calçou ruas e servente da prefeitura. Morou em pensão onde conheceu Donga e Pixinguinha – grandes parceiros musicais.
Acreditou em sua arte, ganhou o respeito de nomes como Catulo da Paixão Cearense, Afonso Arinos e Villa-Lobos – que na década de 1930 assegurou que “J. S. Bach não se envergonharia de assinar os estudos de João Pernambuco”. Autor de um rico repertório, João Pernambuco foi um dos criadores da escola brasileira de violão. Nos deixou em 16 de outubro de 1947 como um dos mais importantes violonistas do Brasil de todos os tempos.
João Pernambuco e os nossos grandes mestres continuam a inspirar gerações de artistas. Nesta sessão solene, sob influência magnífica deles, prestamos homenagem aos que atuam firmemente para assegurar ao Choro o prestígio que merece. E neste momento gostaria de destacar:
Dalva Torres - Cantora, compositora e instrumentista é a maior referência do Choro cantado em Pernambuco. Com sua voz doce e de características marcantes, conquistou o público e se tornou inspiração para muitas cantoras que se iniciam. Os maiores instrumentistas já acompanharam Dalva em seus shows: de Rossini Ferreira, passando por Henrique Annes, Marco César, Bozo 7 Cordas, Betto do Bandolim, Canhoto da Paraíba e muitos outros. Não é à toa que ela é chamada de a Dama do Choro pernambucano.
Coletivo Isto é Choro!
Criada em 2016 a partir dos festivais de Choro “Recife Carinhoso” e “Festival do Choro João Pernambuco”, o coletivo reúne musicistas, produtores e agentes culturais ligados ao Choro tendo como objetivo a promoção e a salvaguarda do gênero Choro a nível local, nacional e internacional.
O Coletivo foi responsável pelo registro do Mestre Chocho como Patrimônio Vivo de Pernambuco e pela iniciativa para instituição do Dia Municipal do Choro Luperce Miranda, lei de autoria da vereadora Cida Pedrosa.
O Coletivo é coordenado pelo produtor e diretor artístico W.Staden, pelo músico Betto do Bandolim, pelo promotor Dácio Ferraz, pelo músico e produtor José Arimatéa e pelo comunicador e pesquisador Walmir Chagas.
Roda Infinito
Roda de Choro formada em 2012 por iniciativa do músico e professor Wilson Soares, agrupa jovens musicistas de Choro da Região Metropolitana do Recife. Nestes dez anos de atividade, a Roda Infinito já passou por vários espaços culturais, sendo responsável pela inserção de músicos no mercado e origem de vários grupos de Choro.
A Roda de Choro é um dos elementos fundamentais do gênero, sendo o meio onde o Choro existe e resiste. Um meio popular e democrático que garante a manutenção e preservação do Choro, além de ser um espaço de formação prática para os musicistas. A Roda não é uma organização formal. Ela é organizada coletivamente por autogestão dos participantes. Hoje, o músico e professor Lucas Guerra cumpre o papel de arregimentação do grupo da Roda Infinito.
Finalizo a minha participação nesta noite memorável para agradecer a presença de todos e de todas. E assim como em uma roda de Choro que possamos perpetuar os laços de coletividade, troca, acolhimento e aprendizado.
Viva o Choro!
Boa noite!


