Pronunciamento do deputado Waldemar Borges – Evandro Cavalcanti

21.02.2016

Hoje se completam 30 anos da morte de um dos maiores defensores dos trabalhadores rurais em Pernambuco. No dia 21 de fevereiro de 1987, o advogado, vereador do município de Surubim e militante político, Evandro Cavalcanti, então com 39 anos, foi morto covardemente com oito tiros, enquanto caminhava pelo centro da cidade com sua esposa Jucilete Cavalcanti e a filha Andréa, de 9 anos. Três homens efetuaram os disparos contra o vereador e fugiram numa Brasília branca. Evandro morreu no local e sua filha ficou ferida no braço.

Enquanto advogado defensor dos trabalhadores rurais de Surubim, Evandro fazia inúmeras denúncias contra irregularidades e violências praticadas por proprietários de terra da região, o que teria motivado o crime. Foram indiciados e presos  Severino Sinval, Charles de Farias Guerra e José do Rego Neto, proprietários das fazendas Cruzeiro Caiana e Umary de Casinhas, um dos locais de maior conflito com posseiros.

Para homenageá-lo, quero ler aqui um artigo do escritor e publicitário José Nivaldo Júnior, publicado no Blog do Magno nesta terça-feira, que muito nos fala sobre essa grande perda, e o qual peço Transcrição para os Anais desta Casa:

“DIGA, COMPANHEIROS”:
EVANDRO CAVALCANTI, PRESENTE

*Por José Nivaldo Júnior

Há 30 anos, 21 de fevereiro de 1987, não era terça-feira. Era sábado. Dia de feira, dia de festa, dia de trabalho em Surubim.
Evandro Cavalcanti, 39 anos, vereador pelo PMDB, o partido que enfrentara a ditadura na luta parlamentar, militante político e advogado do sindicato rural, caminhava pela rua.


Não estava vagando. Dirigia-se ao sindicato, onde ocorreria uma assembléia.
Levava pela mão a filha pré-adolescente, Andréa. Ao lado, Leta, a mulher e companheira da vida.
Abordado por um bando de facínoras, a soldo de reacionários inimigos dos camponeses e da luta popular, disse suas últimas palavras permeadas de fraternidade: “Diga, companheiros?”.


Precisa falar mais para expressar a figura humana extraordinária que era Evandro Cavalcanti?
Nessa madrugada distante geograficamente é tão perto pela comunicação, escrevo com lágrimas escorrendo dos olhos.
A lembrança da tragédia – Evandro morto no calçamento, Andréa ferida a bala, Leta destroçada, é por demais dolorosa.
Neste momento de recordações e dor, tiro o chapéu para Leta, Andréa , Marcelinha (minha querida afilhada) , Luiz e Fidel, esposa e filhos de Evandro.


Seguiram a vida, lutando a batalha de cada dia, buscando cada qual a seu modo ser feliz. Guerreiros da humanidade, todos eles, porque a felicidade é a vitória definitiva contra a maldade.
Evandro era um amante da vida. Compartilhamos grandes e belos momentos. De lutas e risos.
Tornou-se, pelo sacrifício, um símbolo que inspira as lutas populares do Brasil inteiro.


Muitas vezes ele repetiu uma frase que, sinceramente, não lembro se era dele, minha, de Leonardo Cavalcanti ou de quem quer que seja. Sua voz inconfundível está nítida na minha memória:”Zé, o povo não tem direitos, tem conquistas”.
Registrado, companheiro. O seu sorriso está presente.